A primeira coisa que aprendi com minha mãe foi simples, mas transformadora: “Você não é todo mundo.” Uma frase que, na infância, parecia apenas uma resposta para minhas queixas por não poder fazer o que os outros faziam. Mas com o tempo, percebi que ali havia uma verdade profunda — uma resistência precoce ao senso comum, esse molde invisível que tenta nivelar todos pelo mesmo pensamento, comportamento e visão de mundo.
Hoje, vivemos num tempo em que o senso comum mudou de rosto, mas não de função. Ele se veste de discursos ideológicos, bandeiras políticas e frases prontas. As pessoas estão pensando em bloco, falando em uníssono, como se todas tivessem sido programadas por seus ídolos políticos e influenciadores de estimação. Basta saber qual é a ideologia de alguém, e você já sabe o que ela pensa sobre política, religião, economia, vacina, guerra e até sobre o tempo.
Viramos seguidores de ideias alheias — e seguidores fiéis demais, às vezes cegos. O debate morreu sufocado pelo medo de discordar da tribo. E discordar virou ofensa. O mundo está chato, engessado, previsível. Já não conversamos para entender; conversamos para identificar de que lado o outro está. E quando o lado não é o nosso, a escuta se fecha.
Essa padronização do pensamento, travestida de engajamento, é perigosa. Rouba a individualidade. Apaga a liberdade de pensar diferente, de mudar de ideia, de ser complexo. E o pior: tudo agora gira em torno de “qual lado político você escolheu”. Até o gosto musical e o tipo de piada que se pode contar parecem depender disso.
Se há algo que precisamos urgentemente resgatar é a autenticidade. Pensar por si mesmo, sem precisar consultar o manual da ideologia que seguimos. Concordar com ideias de diferentes lados quando elas forem boas — e criticar qualquer lado quando forem ruins. Ter coragem de ser honesto com a própria consciência.
E se eu pudesse hoje repetir a lição da minha mãe, seria para todos nós: